sábado, 7 de maio de 2016

SOBRE DOCES E PESSOAS

Olá pessoas!

Muito aconteceu nesses meses, coisas ruins das quais não se faz bem lembrar e coisas ótimas, como virar tio de gêmeos, algo para se escrever ao longo dos anos e muitas diversões. No momento só mais um pouco de reflexão sobre a humanidade, um pouco de revolta com uma prova e é claro, meu querido amigo Pedro Góli, boa leitura para quem ler!




          SOBRE DOCES E PESSOAS

Certo dia de verão, clima até ameno, a avó levou o neto de seis anos de idade até o parque para que ele pudesse brincar bastante e gastar a energia peculiar a toda as crianças. Não raro, ao observar o netinho correndo de um lado ao outro, a velha senhora ficava saudosa de seus tempos de infância e de todo vigor que tinha naquela época. Hoje, o simples fato de conseguir ir e voltar do parque já lhe deixava muito feliz.

Seus tempos eram outros, bem verdade, e a família era bem mais numerosa. As vezes ressentia-se de o neto não ter tido irmãos e irmãs como ela teve aos montes, sem contar todos os primos e até meios-irmãos. Sua filha escolhera ser mais precavida nos tempos atuais e ter um filho já se torna uma imensa responsabilidade. Talvez nesse ponto ela até tivesse acertado, uma vez que já tinha se separado do marido há algum tempo.

E foi sobre isso que o netinho, depois de tanto brincar e acabar por sentar-se no banco ao seu lado, perguntou para ela:

- Vovó, ontem eu estava com o papai e ele sempre está bravo com a mamãe e quando eu falo dela ele faz cara feia. Eles não ficaram juntos por que eu nasci?

A avô ficou pensativa por alguns instantes, sabia que não poderia responder de qualquer maneira para o neto, as crianças podem levar muito a sério as opiniões dos adultos e tomarem como verdade absoluta se essas opiniões se repetem por muito tempo. Ela não queria que o netinho tivesse uma impressão errada do que queria dizer, então tentou explicar da forma mais suave que lhe veio à mente.

- Vamos fazer o seguinte. Vamos brincar de imaginar as coisas está bem?

- Tá.

- Certo. Eu vou falando e quero que você vá criando as imagens na sua cabeça de tudo o que vou falar.

- Tudo bem, pode falar vovó.

- Sabe quando você passa por uma padaria e vê os doces no balcão? Imagine que você vê um pedaço bem bonito de bolo de chocolate, o que você faria?

- Comeria ele.

- Sim, você quer comê-lo. Mas veja bem, você viu aquele bolo que deixou você interessado, e acabou levando ele para casa para poder comer. Mas tinha um problema que o moço da padaria não tinha falado para você sobre aquele bolo.

- Que problema?

- Que, na verdade, aquele bolo de chocolate tão interessante era feito de chocolate meio amargo.

- Eca! Eu não gosto desse tipo de chocolate.

- Só que para você descobrir isso, primeiro você teve que levar o bolo para casa e depois ter dado uma mordida nele. E o que você faz quando não gosta do bolo?

- Eu dou para outra pessoa que goste.

- Isso é muito legal da sua parte. E é aqui que as coisas se parecem um pouquinho com o que aconteceu com seus pais.

- Como?

- Bom, quando a sua mãe conheceu o seu, viu ele a primeira vez, ela achou que ele era a melhor pessoa do mundo para ela e então, claro, ela quis levar ele para casa. Mas depois de um tempo, um tempo bem maior do que você leva para morder o bolo, ela acabou percebendo que não gostava dele.

- Ele era de chocolate amargo também?

- Ahuahua, um pouco eu acho. Bem, depois que ela percebeu o que realmente sentia ela então deixou que ele fosse embora.

- Mas por que ela fez isso?

- Ora, para que as coisas ficassem certas. Você não ia dar o bolo para alguém que gostasse?

- Ia sim.

- E foi o que a sua mãe fez. Como ela descobriu que o seu pai não era a melhor pessoa do mundo para ela; ela decidiu deixa-lo ir para que ele encontrasse alguém para quem ele possa ser a melhor pessoa do mundo. Apenas isso. Entendeu?

- Acho que sim, mas por que ele fica bravo quando...?

- Acho que o gosto amargo do chocolate ainda não saiu totalmente da boca dele, mas um dia isso vai passar. Sabe, o grande problema das pessoas em relação as outras é que algumas percebem bem rapidamente esse gosto amargo e não ficam remoendo isso por muito tempo, mas há aquelas que são teimosas demais achando que algum dia irão conseguir colocar um pouco de açúcar sobre essas pessoas e se prendem por muito tempo a elas. Infelizmente elas não conseguem e perdem muito tempo com algo que não as deixa felizes.

- Mas vovó, se o papai foi encontrar alguém para ele ser a melhor pessoa do mundo, por que a mamãe ainda não encontrou alguém para ela?

- Na verdade ela já tema alguém para ser a melhor pessoa do mundo e tenho certeza de que ela encontrara um outro alguém para ela também.

- E quem é essa pessoa?

- Oras, é você meu querido, sempre será você. Ah, mas não pense que seu pai também não pensa assim, ele também sabe que para você ele também deve ser a melhor pessoa do mundo. Entendeu?

- Acho que entendi. Eu achava que eu tinha culpa, mas agora vi que não.

- Nunca teve, meu amor.

- Vó, vou brincar mais um pouco, mas depois a gente podia fazer uma coisa?

- E o que você quer fazer depois?

- Quero ir comer bolo. A gente pode?

A avó sorriu. E assentiu com a cabeça, dizendo:

- Mas é claro que sim. Vai querer de chocolate?

- Acho melhor não. Vou pedir de morango dessa vez!


E lá se foi o netinho correndo ao encontro das outras crianças que tinha deixado de lado por esse breve momento em que conversara com a avó. E ela apenas continuou a olhar para ele e a relembrar dos velhos tempos. E que bons tempos!




PAUSA

 Esses dias fui fazer mais uma prova na faculdade, e dessa vez eu tinha estudado demais da conta a tal matéria. Estava tão confiante que realmente achava que não havia como ir mal, afinal até exercício na net eu fiz, dos mais fáceis aos mais difíceis, com uma média de acerto de 90%. Logo, eu estava achando que no mínimo uma nota perto de 9 sairia. Isso durou até eu começar a ler a prova, dali para frente foi um terror inigualável e eu entendi finalmente que, por mais que você estude, sempre tem um professor pra fazer uma prova além dos estudos. Depois da prova, já desanimado, parei para pensar, e rir um pouco, de como seriam as reações das pessoas que precisariam escolher uma alternativa para chutar como eu fiz, acho que seria mais ou menos assim:

Pessoa religiosa cristã tentando chutar e olhando para a letra:

A)   Ah meu Pai amado, Senhor dos senhores, Reis dos reis, me ajuda nessa hora e abençoa essa alternativa.
B)   Bem-aventurados os humilhados, por que deles é o Reino dos céus.
C)   Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, criador do céu e da terra...
D)   Deus, se eu acertar essa, nunca mais falto ao culto/igreja/célula/etc....
E)   Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém ou na versão evangélica: Em o nome do Senhor, o Sangue de Jesus tem poder.


Pessoa que chegou depois da festa, bêbada:

A)   Ahuahuahuhauhauh, que merda tá escrito aqui?
B)   BUUUUURRP, mals aí galera, ainda não saiu tudo!
C)   Como era mesmo o nome da mina/cara que eu peguei ontem a noite?
D)   Disgrama de vida, que que eu tô fazendo nessa sala se eu podia tá tomando umas?
E)   É melhor eu marcar logo alguma coisa pra ir vomitar no banheiro se der tempo...


Eu, fazendo a tal prova:

A)   Agora to vendo que deveria ter estudado bem mais.
B)   Bom, não tem mais jeito, vai nessa mesmo.
C)   Caralho que não to entendendo porra nenhuma. Vai C mesmo que sempre dá certo.
D)   Demorei demais nessa questão, bora pra próxima.
E)   Então que se foda, vai ser essa aqui, apesar que quase nunca a resposta tá na E.
FIM DA PAUSA



   AS PERIPÉCIAS DE PEDRO GOLI

Esses dias eu vi uma notícia em um canal qualquer de televisão, parece que uma freira que arrecadava dinheiro para os pobres estava gastando tudo pra ela mesma. Só não consegui entender com o que, já que eu nunca vejo freiras com joias e outras coisas. Mas isso me fez lembrar de uns acontecidos de meses atrás. Eu sei que as pessoas nem sempre são o que parecem ser, algumas sim, mas veja meu caso; eu pareço ser apenas um cara que não faz nada e só pensa em beber e na verdade..., bem, na verdade eu acho que é isso mesmo.

Mas essa história não é sobre mim e sim sobre o que eu fiz, merda, então também é sobre mim. Ah, foda-se. Leia aí que você irá entender.

Eu tava indo pro prédio de um camarada meu e antes de chegar no local encontrei com outro parça na rua. Ele perguntou o que eu tava fazendo e falei que ia ver o Joao.

- Serio véi? Pode fazer um favor pra mim?

- Ah cara, nem dá, não posso atrasar.

- Mas véi, é um favor lá no prédio do Joao e ainda ganha uma grana.

Bem, grana significa vodka, então eu aceitei.

- Olha só, pega esse pacote aqui e entrega no apartamento da Monaliza no segundo andar, número 21. Firmeza? Aí ela vai te dar uma grana e você pode tirar 30 pra você.

- Beleza, dá o pacote.

O pacote era um quadrado embrulhado em papel branco. Pelo peso eu sabia o que era. Só podia ser um bloco de maconha. Mas como não era da minha conta, fiquei quieto e continuei meu caminho.

Confesso que eu tava tão de ressaca naquele dia, que dei a volta na mesma quadra umas três vezes, quando eu achei que tava perdido, lembrei de olhar para cima e vi o prédio do Joao do outro lado da rua. Fui direto pra portaria e o seu Jaime, o porteiro, já sabendo pra onde eu ia me pediu um favor também:

- Pedro, já que você vai no apê do Joao será que você poderia antes parar no segundo andar e entregar uma coisa pra dona Maria Aparecida?

- Vai rolar uma grana?

- Poxa Pedro, faz um favor pro seu amigo aqui, eu sempre alivio quando vocês fazem arruaça na área livre do condomínio.

Ele tava certo. O Jaime era gente boa e quando a gente fazia algazarra de tão loucos que a gente tava quando a galera se reunia perto da piscina, ele aliviava a barra legal pra todos. Até na vez que mijamos na piscina e deixamos todos aqueles rastros coloridos na agua e jogamos todas as garrafas de cerveja dentro dela, ele logo cedo limpou todas as evidencias.

- Deixa comigo, o que eu tenho que entregar?

- É esse pacote aqui. Ela mora no segundo andar, apartamento 22. Toma!

Peguei o pacote. Era um quadrado embrulhado em papel branco. Segundo o Jaime era uma bíblia e ela tava esperando fazia tempo.

Apertei o botão do elevador e quando a porta abriu, vi que tinha um cara lá dentro. Mas eu não ia cair nessa de me olhar no espelho e achar que era outra pessoa, eu sempre fazia isso quando tava nesse estado. Pra descontrair a subida comecei a mandar beijinho pro meu reflexo. Tava parecendo uma bichona bem louca. Só parei quando ouvi a resposta:

- Oh cara, eu não curto isso não!

Putz. Dessa vez tinha mesmo um cara dentro do elevador comigo. Tentei me retratar.
- Mals aê. Pensei que você fosse eu...

Acho que ele não entendeu nada daquilo e fiquei aliviado quando a porta do elevador abriu no segundo andar. Espero que nunca mais veja esse cara na minha vida.

Tava com os dois pacotes em mãos, mas aí aconteceu maior problema. Os dois eram quadrados e brancos, e agora? Tentei sentir o cheiro pra ver se diferenciava a maconha da bíblia, mas a ressaca tava tão foda que tudo cheirava à pão de queijo. Bom, o jeito era arriscar, eu tinha 50% de chance de acertar as entregas, mas sabia que tinha que fazer isso certo, até por que as duas vizinhas tinham históricos de reclamações uma da outra. Também pudera, Monaliza era uma louca de pedra, que vivia fumando maconha no prédio e Maria Aparecida era daquelas crentes que oram alto pra Deus ouvir bem lá em cima.

Bati na porta das duas, entreguei um pra uma, outro pra outra, peguei a grana, separei minha parte fui pras escadas para subir até o andar do Joao, por que deu cagaço de encontrar aquele cara de novo no elevador. Acho que demorei uma meia hora chegar no andar certo, por que em vários momentos quando eu tava no meio de um lance de escada eu esquecia se tava subindo ou descendo.

Pra resumir os fatos, eu entreguei os pacotes errados. Quando me contaram achei que ia dar maior galho pra mim. Mas sabem o que aconteceu? Monaliza e Maria Aparecida se tornaram grandes amigas dali pra frente, tudo por que uma foi no apê da outra devolver o “engano” e acabaram por se convencer mutualmente. Tipo, agora as duas sempre se reúnem para ir ao culto e depois dão uma chegada nas praças pra puxar unzinho.

Aí que eu falo das aparências. Quem diria que alguma dessas duas algum dia iria compartilhar algo com a outra que julgavam ser coisa de imbecil, tanto de um lado como do outro.

E foi assim aquele dia, o legal é que o meu parça ficou feliz em ter arrumado outra cliente e quis dividir mais uma graninha comigo, mas eu saltei fora dessa de ser entregador, afinal, eu percebi que não levava jeito pra coisa.



FUI-ME!!!