Muito aconteceu nesses meses, coisas ruins das quais não se faz bem lembrar e coisas ótimas, como virar tio de gêmeos, algo para se escrever ao longo dos anos e muitas diversões. No momento só mais um pouco de reflexão sobre a humanidade, um pouco de revolta com uma prova e é claro, meu querido amigo Pedro Góli, boa leitura para quem ler!
SOBRE DOCES E PESSOAS
Certo dia de verão, clima até
ameno, a avó levou o neto de seis anos de idade até o parque para que ele
pudesse brincar bastante e gastar a energia peculiar a toda as crianças. Não
raro, ao observar o netinho correndo de um lado ao outro, a velha senhora
ficava saudosa de seus tempos de infância e de todo vigor que tinha naquela
época. Hoje, o simples fato de conseguir ir e voltar do parque já lhe deixava
muito feliz.
Seus tempos eram outros, bem
verdade, e a família era bem mais numerosa. As vezes ressentia-se de o neto não
ter tido irmãos e irmãs como ela teve aos montes, sem contar todos os primos e
até meios-irmãos. Sua filha escolhera ser mais precavida nos tempos atuais e
ter um filho já se torna uma imensa responsabilidade. Talvez nesse ponto ela
até tivesse acertado, uma vez que já tinha se separado do marido há algum
tempo.
E foi sobre isso que o
netinho, depois de tanto brincar e acabar por sentar-se no banco ao seu lado,
perguntou para ela:
- Vovó, ontem eu estava com o
papai e ele sempre está bravo com a mamãe e quando eu falo dela ele faz cara
feia. Eles não ficaram juntos por que eu nasci?
A avô ficou pensativa por
alguns instantes, sabia que não poderia responder de qualquer maneira para o
neto, as crianças podem levar muito a sério as opiniões dos adultos e tomarem
como verdade absoluta se essas opiniões se repetem por muito tempo. Ela não
queria que o netinho tivesse uma impressão errada do que queria dizer, então
tentou explicar da forma mais suave que lhe veio à mente.
- Vamos fazer o seguinte.
Vamos brincar de imaginar as coisas está bem?
- Tá.
- Certo. Eu vou falando e
quero que você vá criando as imagens na sua cabeça de tudo o que vou falar.
- Tudo bem, pode falar vovó.
- Sabe quando você passa por
uma padaria e vê os doces no balcão? Imagine que você vê um pedaço bem bonito
de bolo de chocolate, o que você faria?
- Comeria ele.
- Sim, você quer comê-lo. Mas
veja bem, você viu aquele bolo que deixou você interessado, e acabou levando
ele para casa para poder comer. Mas tinha um problema que o moço da padaria não
tinha falado para você sobre aquele bolo.
- Que problema?
- Que, na verdade, aquele bolo
de chocolate tão interessante era feito de chocolate meio amargo.
- Eca! Eu não gosto desse tipo
de chocolate.
- Só que para você descobrir
isso, primeiro você teve que levar o bolo para casa e depois ter dado uma
mordida nele. E o que você faz quando não gosta do bolo?
- Eu dou para outra pessoa que
goste.
- Isso é muito legal da sua
parte. E é aqui que as coisas se parecem um pouquinho com o que aconteceu com
seus pais.
- Como?
- Bom, quando a sua mãe
conheceu o seu, viu ele a primeira vez, ela achou que ele era a melhor pessoa
do mundo para ela e então, claro, ela quis levar ele para casa. Mas depois de
um tempo, um tempo bem maior do que você leva para morder o bolo, ela acabou
percebendo que não gostava dele.
- Ele era de chocolate amargo
também?
- Ahuahua, um pouco eu acho.
Bem, depois que ela percebeu o que realmente sentia ela então deixou que ele
fosse embora.
- Mas por que ela fez isso?
- Ora, para que as coisas
ficassem certas. Você não ia dar o bolo para alguém que gostasse?
- Ia sim.
- E foi o que a sua mãe fez.
Como ela descobriu que o seu pai não era a melhor pessoa do mundo para ela; ela
decidiu deixa-lo ir para que ele encontrasse alguém para quem ele possa ser a
melhor pessoa do mundo. Apenas isso. Entendeu?
- Acho que sim, mas por que
ele fica bravo quando...?
- Acho que o gosto amargo do
chocolate ainda não saiu totalmente da boca dele, mas um dia isso vai passar.
Sabe, o grande problema das pessoas em relação as outras é que algumas percebem
bem rapidamente esse gosto amargo e não ficam remoendo isso por muito tempo,
mas há aquelas que são teimosas demais achando que algum dia irão conseguir
colocar um pouco de açúcar sobre essas pessoas e se prendem por muito tempo a
elas. Infelizmente elas não conseguem e perdem muito tempo com algo que não as
deixa felizes.
- Mas vovó, se o papai foi encontrar
alguém para ele ser a melhor pessoa do mundo, por que a mamãe ainda não
encontrou alguém para ela?
- Na verdade ela já tema
alguém para ser a melhor pessoa do mundo e tenho certeza de que ela encontrara
um outro alguém para ela também.
- E quem é essa pessoa?
- Oras, é você meu querido,
sempre será você. Ah, mas não pense que seu pai também não pensa assim, ele
também sabe que para você ele também deve ser a melhor pessoa do mundo.
Entendeu?
- Acho que entendi. Eu achava
que eu tinha culpa, mas agora vi que não.
- Nunca teve, meu amor.
- Vó, vou brincar mais um
pouco, mas depois a gente podia fazer uma coisa?
- E o que você quer fazer
depois?
- Quero ir comer bolo. A gente
pode?
A avó sorriu. E assentiu com a
cabeça, dizendo:
- Mas é claro que sim. Vai
querer de chocolate?
- Acho melhor não. Vou pedir
de morango dessa vez!
E lá se foi o netinho correndo
ao encontro das outras crianças que tinha deixado de lado por esse breve
momento em que conversara com a avó. E ela apenas continuou a olhar para ele e
a relembrar dos velhos tempos. E que bons tempos!
Esses dias fui fazer mais uma
prova na faculdade, e dessa vez eu tinha estudado demais da conta a tal
matéria. Estava tão confiante que realmente achava que não havia como ir mal,
afinal até exercício na net eu fiz, dos mais fáceis aos mais difíceis, com uma
média de acerto de 90%. Logo, eu estava achando que no mínimo uma nota perto de
9 sairia. Isso durou até eu começar a ler a prova, dali para frente foi um
terror inigualável e eu entendi finalmente que, por mais que você estude,
sempre tem um professor pra fazer uma prova além dos estudos. Depois da prova,
já desanimado, parei para pensar, e rir um pouco, de como seriam as reações das
pessoas que precisariam escolher uma alternativa para chutar como eu fiz, acho
que seria mais ou menos assim:
Pessoa religiosa cristã tentando
chutar e olhando para a letra:
A) Ah meu
Pai amado, Senhor dos senhores, Reis dos reis, me ajuda nessa hora e abençoa
essa alternativa.
B) Bem-aventurados
os humilhados, por que deles é o Reino dos céus.
C) Creio em
Deus Pai, Todo Poderoso, criador do céu e da terra...
D) Deus,
se eu acertar essa, nunca mais falto ao culto/igreja/célula/etc....
E) Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém ou na versão evangélica: Em o
nome do Senhor, o Sangue de Jesus tem poder.
Pessoa que chegou depois da
festa, bêbada:
A) Ahuahuahuhauhauh,
que merda tá escrito aqui?
B) BUUUUURRP,
mals aí galera, ainda não saiu tudo!
C) Como
era mesmo o nome da mina/cara que eu peguei ontem a noite?
D) Disgrama
de vida, que que eu tô fazendo nessa sala se eu podia tá tomando umas?
E) É
melhor eu marcar logo alguma coisa pra ir vomitar no banheiro se der tempo...
Eu, fazendo a tal prova:
A) Agora
to vendo que deveria ter estudado bem mais.
B) Bom,
não tem mais jeito, vai nessa mesmo.
C) Caralho
que não to entendendo porra nenhuma. Vai C mesmo que sempre dá certo.
D) Demorei
demais nessa questão, bora pra próxima.
E) Então
que se foda, vai ser essa aqui, apesar que quase nunca a resposta tá na E.
AS PERIPÉCIAS DE PEDRO GOLI
Esses dias eu vi uma notícia
em um canal qualquer de televisão, parece que uma freira que arrecadava
dinheiro para os pobres estava gastando tudo pra ela mesma. Só não consegui
entender com o que, já que eu nunca vejo freiras com joias e outras coisas. Mas
isso me fez lembrar de uns acontecidos de meses atrás. Eu sei que as pessoas
nem sempre são o que parecem ser, algumas sim, mas veja meu caso; eu pareço ser
apenas um cara que não faz nada e só pensa em beber e na verdade..., bem, na
verdade eu acho que é isso mesmo.
Mas essa história não é sobre
mim e sim sobre o que eu fiz, merda, então também é sobre mim. Ah, foda-se.
Leia aí que você irá entender.
Eu tava indo pro prédio de um
camarada meu e antes de chegar no local encontrei com outro parça na rua. Ele
perguntou o que eu tava fazendo e falei que ia ver o Joao.
- Serio véi? Pode fazer um
favor pra mim?
- Ah cara, nem dá, não posso
atrasar.
- Mas véi, é um favor lá no
prédio do Joao e ainda ganha uma grana.
Bem, grana significa vodka,
então eu aceitei.
- Olha só, pega esse pacote
aqui e entrega no apartamento da Monaliza no segundo andar, número 21. Firmeza?
Aí ela vai te dar uma grana e você pode tirar 30 pra você.
- Beleza, dá o pacote.
O pacote era um quadrado
embrulhado em papel branco. Pelo peso eu sabia o que era. Só podia ser um bloco
de maconha. Mas como não era da minha conta, fiquei quieto e continuei meu
caminho.
Confesso que eu tava tão de
ressaca naquele dia, que dei a volta na mesma quadra umas três vezes, quando eu
achei que tava perdido, lembrei de olhar para cima e vi o prédio do Joao do
outro lado da rua. Fui direto pra portaria e o seu Jaime, o porteiro, já
sabendo pra onde eu ia me pediu um favor também:
- Pedro, já que você vai no
apê do Joao será que você poderia antes parar no segundo andar e entregar uma
coisa pra dona Maria Aparecida?
- Vai rolar uma grana?
- Poxa Pedro, faz um favor pro
seu amigo aqui, eu sempre alivio quando vocês fazem arruaça na área livre do
condomínio.
Ele tava certo. O Jaime era
gente boa e quando a gente fazia algazarra de tão loucos que a gente tava
quando a galera se reunia perto da piscina, ele aliviava a barra legal pra
todos. Até na vez que mijamos na piscina e deixamos todos aqueles rastros
coloridos na agua e jogamos todas as garrafas de cerveja dentro dela, ele logo
cedo limpou todas as evidencias.
- Deixa comigo, o que eu tenho
que entregar?
- É esse pacote aqui. Ela mora
no segundo andar, apartamento 22. Toma!
Peguei o pacote. Era um quadrado
embrulhado em papel branco. Segundo o Jaime era uma bíblia e ela tava esperando
fazia tempo.
Apertei o botão do elevador e
quando a porta abriu, vi que tinha um cara lá dentro. Mas eu não ia cair nessa
de me olhar no espelho e achar que era outra pessoa, eu sempre fazia isso
quando tava nesse estado. Pra descontrair a subida comecei a mandar beijinho
pro meu reflexo. Tava parecendo uma bichona bem louca. Só parei quando ouvi a
resposta:
- Oh cara, eu não curto isso
não!
Putz. Dessa vez tinha mesmo um
cara dentro do elevador comigo. Tentei me retratar.
- Mals aê. Pensei que você
fosse eu...
Acho que ele não entendeu nada
daquilo e fiquei aliviado quando a porta do elevador abriu no segundo andar.
Espero que nunca mais veja esse cara na minha vida.
Tava com os dois pacotes em
mãos, mas aí aconteceu maior problema. Os dois eram quadrados e brancos, e
agora? Tentei sentir o cheiro pra ver se diferenciava a maconha da bíblia, mas
a ressaca tava tão foda que tudo cheirava à pão de queijo. Bom, o jeito era arriscar,
eu tinha 50% de chance de acertar as entregas, mas sabia que tinha que fazer
isso certo, até por que as duas vizinhas tinham históricos de reclamações uma
da outra. Também pudera, Monaliza era uma louca de pedra, que vivia fumando
maconha no prédio e Maria Aparecida era daquelas crentes que oram alto pra Deus
ouvir bem lá em cima.
Bati na porta das duas, entreguei
um pra uma, outro pra outra, peguei a grana, separei minha parte fui pras
escadas para subir até o andar do Joao, por que deu cagaço de encontrar aquele
cara de novo no elevador. Acho que demorei uma meia hora chegar no andar certo,
por que em vários momentos quando eu tava no meio de um lance de escada eu
esquecia se tava subindo ou descendo.
Pra resumir os fatos, eu
entreguei os pacotes errados. Quando me contaram achei que ia dar maior galho
pra mim. Mas sabem o que aconteceu? Monaliza e Maria Aparecida se tornaram
grandes amigas dali pra frente, tudo por que uma foi no apê da outra devolver o
“engano” e acabaram por se convencer mutualmente. Tipo, agora as duas sempre se
reúnem para ir ao culto e depois dão uma chegada nas praças pra puxar unzinho.
Aí que eu falo das aparências.
Quem diria que alguma dessas duas algum dia iria compartilhar algo com a outra
que julgavam ser coisa de imbecil, tanto de um lado como do outro.
E foi assim aquele dia, o
legal é que o meu parça ficou feliz em ter arrumado outra cliente e quis
dividir mais uma graninha comigo, mas eu saltei fora dessa de ser entregador,
afinal, eu percebi que não levava jeito pra coisa.
FUI-ME!!!