Fim de ano, bora fazer promessas e metas para o próximos ano que não iremos cumprir de qualquer forma, mas como é bom viajar no pensamento das probabilidades e possibilidades, vai que numa delas a gente acerta...
Hoje, para aqueles que lerem, temos mais uma dessas inspirações do cotidiano, um pouco de comparação da vida entre os tempos e também mais uma conversa de vampiro, dessa vez mostrando que distância pode ser a resposta às questões que não compreendemos direito. Boa leitura e ótimo fim de ano!
A
mão estendida.
Uma mão se estende através do
vidro aberto de um carro, na mão uma nota de cinco reais. Um pouco distante um
senhor corre em direção ao carro, não vejo o complemento da ação, meu veículo
já tinha passado a cena, mas seu final é um tanto óbvio.
No pequeno trajeto até minha
última parada do dia, ou da noite, fico pensando se a velocidade empreendida
até aquela mão exercida pelo velhinho um tanto manco teria sido a mesma se o
que estivesse sendo seguro por ela fosse um sanduíche, um copo de café ou quem
sabe mesmo, vá lá, um livro.
Claro que cada um sabe do que
precisa e geralmente o dinheiro poderá prover qualquer necessidade que vir a
aparecer a qualquer hora, mas e se de-repente naquele momento ele não estivesse
com fome e o dinheiro acabasse servindo para coisas supérfluas, daí, depois vem
a tal fome e o dinheiro que veio, já foi. Se fosse o sanduíche poderia ter sido
guardado para esse momento, mas o dinheiro se vai a todo momento.
Não sou eu que irei dizer o que
outros precisam e porquê precisam, eu também nunca sei do que irei precisar e
considero que muito menos as outras pessoas saberão, só sei que se tentar
estabelecer todas as minhas vontades contando com o dinheiro que terei ao longo
dos dias para sanar a todas elas, eu certamente ficarei em dívida com essas
necessidades.
Há doações que nos parecem
inúteis por que não aprecem nos dar algo que queríamos atingir, doar
conhecimento, doar alimentos, doar atenção, doar solidariedade, doar
medicamentos, doar roupas e camas e tudo o que mais pudermos, nada disso parece
atingir mais às pessoas que doar o tal dinheiro, o tal fazedor das vontades
instantâneas que sempre teimam em não ser as vontades que os doadores querem
que elas sejam. Num contexto explicativo, se você quer doar o malfadado
sanduíche o donatário quererá mesmo é uma cervejinha e aí o poder transformador
do dinheiro em qualquer coisa que ele possa pagar que resolve no ato o gosto do
cliente, ops, do ajudado.
Fica difícil tanto de entender
como de explicar que muitas coisas poderão ser mais uteis quando são doadas por
serem de uso mais futuro que imediato, mas que esse futuro se tornará imediato
em algum tempo e aí, bom aí vão ter que entrar com mais dinheiro. E tanto é o
desejo do doador se sentir útil quanto do donatário se sentir agradecido que
ambos sabem que o dinheiro é a doação mais “acertada” em qualquer ocasião, é
como nunca errar no presente de aniversário a quem se quer agradar, é certo, é
na mosca!
É nesse ponto que eu deixo de
questionar o motivo de sempre pedirem dinheiro em qualquer doação, seja na rua,
seja na televisão, seja na igreja. É como a gente já sabe, cada um sabe do que
precisa e só há uma coisa que pode ser todas as coisas que se põe necessárias,
mesmo que nós nem saibamos o quanto não precisamos delas e do que iremos
precisar apenas ignoramos.
----------------------------------PAUSA
Tempos
1930 – Seu Firmino levantava
antes do sol, quatro da manhã, por que as vacas não esperavam para dar leite e
também tinha que preparar o café. Lá pelo meio dia vinha o almoço, depois de
uma manhã toda servindo e preparando os animais. De tarde vinha um serviço mais
braçal, preparava a lavoura e colhia o que já estava pronto. Ainda tinha que
levar tudo pra cidade antes do anoitecer para vender nos mercados e voltar pra
casa. Seu Firmino tinha 40 anos com cara de 60. Nunca teve sequer um resfriado,
apenas alguns problemas de coluna e um ombro maltratado, porém morreu mesmo do
coração, naquele tempo nem sabia que comida muito gordurosa poderia matar tão
cedo.
1980 – Seu Francisco levantava
cedo, seis da manhã, pois ele é quem levava as crianças para a escola. A mulher
fazia o café e todos comiam rápido. Depois de deixar os filhos, Francisco ia
direto para o escritório, não almoçava em casa, precisava fazer o mundo
melhorar, naquela época podíamos tudo. Francisco não descuidava da saúde e todos
seus exames médicos eram primorosos, além de sempre sair para correr aos finais
de semana. Seu Francisco tinha 40 anos com cara de 40. Mas morreu pelas
complicações da aids, afinal ele sempre gostou de uma saída cm os amigos de
escritório nos fins de semana em alguma boate qualquer. Infelizmente, naquela
época, não existia diagnóstico para esse mal.
2014 – Fabiano acorda quase
cedo, a aula é as oito, mas como vai de carro ele chega em poucos minutos. Não
toma café por que não dá tempo, mas no intervalo tem muita coisa frita na
cantina e o bom refrigerante. Chega em casa na hora do almoço e come qualquer
coisa bem rapidamente, vai direto pro computador ou fica olhando o celular a
todo o momento. Lá pelas seis da tarde encontra a galera e conversam sobre nada
e coisa alguma, todos com celular em punho. Comem um lanche na rua com mais
refrigerante e combinam onde irão encher a cara no fim de semana. Fabiano tem
20 anos com cara de 17 e também já tem diabetes, hipertensão, colesterol alto e
vive com dores de cabeça. Mas ele não vai morrer aos 40, pois ele já sabe que
tem de tomar quatro tipos diferentes de medicamentos todos os dias para
continuar a ser exatamente assim.
FIM DA PAUSA------------------------------
Onde
estão os deuses?
- Pessoas buscam explicações
que são convenientes pela simplicidade e jamais tentam entender a verdade quando
ela é muito complexa. Acreditar em servos de um demônio me parece mais atraente
e simples do que entender uma evolução de espécie. Aliás como acreditar nos
demônios dos humanos quando eles também nem sabem direito que são seus deuses?
- Eu imagino que todos saibam
quem são, mesmo que sejam diferentes, todos tem histórias que geram crenças e
tantos outros traços fundamentais de uma religião baseada em algum deus.
- E onde estão agora?
- As pessoas que creem?
- Não, os deuses delas?
- Acho que cada um está onde
cada religião diz que assim está, eu não sei.
- Nem você sabe e nem mesmo
eles sabem. Apenas acreditam no lugar, mas não viram nem o lugar e nem o deus.
- Mas ninguém nunca viu
qualquer deus...
- Tem certeza?
- Bom, não há ninguém hoje que
possa dizer algo sobre isso.
- Hoje, esse é exatamente o
tempo certo para o nunca ter visto um deus, mas no ontem as coisas tendiam para
o outro lado.
- As pessoas viam os deuses
antes?
- A humanidade tem uma
característica incrível de conseguir afastar qualquer coisa que não possa
explicar, de fato antigamente os deuses eram vistos e estavam tão presentes
quanto um humano do outro. Quando os deuses eram astros, como o sol ou a lua,
eles estavam presentes quase todos os dias, para serem observados e adorados. Quando
os deuses moravam em uma montanha, mesmo que os homens fossem temerosos para
subir ao seu encontro, bastava invocar seus nomes para, se merecedores fossem,
ter uma bela conversa com qualquer um deles. Em algumas religiões as pessoas
até mesmo sabem que seus deuses se mesclam a animais e por isso reverenciam as
criaturas que dão base à crença. Mesmo nas atuais religiões dominantes desse
mundo, era habitual deus vir se relacionar com os homens, mesmo que não fosse
em outras formas. Muitos profetas tinham contato direto com deus, mas então vem
o hoje.
- Mas isso não estaria no fato
do homem ter se tornado mais racional e visto que a Terra não seria a morada
ideal de um deus?
- Não, nunca foi por isso. A
racionalidade humana não elimina a figura de deus, ela apenas se faz entender
que há mais mitos que verdades em histórias antigas e para não ter que explicar
quais fatos foram realmente reais e talvez por isso não tão magníficos quanto
os fatos inventados os homens escolheram afastar seus deuses deles, isolá-los
em reinos que não estão na Terra ou em qualquer outro local do universo, quem
sabem estejam até mesmo em algum alternativo como especula a ciência, não
importe. O que se mostra verdade é que o homem parece ter se envergonhado de
ver seus deuses ao lado e acharam uma solução mais engenhosa para contornar
episódios que não poderiam descrever como muitos faziam séculos atrás. Os
homens não veem deus como um amigo que pode encontrar todos os dias, não o veem
como alguém que está logo ali no topo da montanha ou no espaço. Agora deus está
exilado no lugar algum da criação esperando que suas criações encontrem o
caminho para esse nenhum lugar, mesmo que eles nem sabiam como é esse lugar,
como é o seu deus e principalmente qual é o caminho que os farão chegar lá.
Montam regras que não seguem como se fossem dadas pelos deuses e se perdem na
sua própria futilidade acreditando que será apenas necessário fechar os olhos e
mentalizar um afigura idealizada de seu deus para eu uma enorme escada, talvez
quem sabe um elevador celestial apareça e as leve até o novo mundo.
- Então estariam os homens
inventando deuses e paraísos? Nada disso existe?
- Inventar é algo ligado a
humanidade, no seu âmago. Mas o que quero explicar aqui é que você escolheram
se afastar de seus deuses, dando status de inatingíveis à eles apenas por que
não conseguem vê-los. E por não conseguirem vê-los encontraram a saída de dizer
que eles estão num lugar mágico ao invés de dizer que eles habitam o mesmo
mundo em que vivemos.
- Então deus ou os deuses....
- Então os homens perderam
certamente a capacidade de entenderem os seus deuses e assim perderam a
capacidade de estarem em contato com eles e então talvez um dia esses homens
entendam que seus deuses estão muito mais próximos deles, tão próximos que a
razão de não poder ver ou falar com eles é que eles não estão na sua frente,
atrás ou aos lados, eles na verdade fazem parte de todos e de tudo. Mas isso
pode ser muito complicado para qualquer humano que apenas se preocupa com sua
própria imagem.
FUI-ME!!!
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